4.6.13

pequena carta para ser aberta em uma tarde do futuro


agora você pode ter certeza: não volta. o beijo não dado não tem mais sentido. o abraço guardado não tem mais motivo. o palavrão engolido não quer dizer mais nada. não volta, você cansou de ouvir, mas só agora pode ter certeza. a chuva nunca mais fez o mesmo desenho no vidro. o mar nunca mais a mesma pose para a fotografia. sua música preferida só tocou no momento certo naquele dia. o poema deixado para depois, hoje, não vale mais nada. há rimas que mofam. que perdem o significado. consegue entender? agora, acredita? não era autoajuda barata. previsão de cigana mentirosa. horóscopo de jornal vagabundo. conselho de velho morrendo. carta falsa de tarô. não volta. mesmo. e espero que na cópia desta mesma carta a ser aberta, novamente, daqui a dez anos, seja menor o arrependimento. estão lacrados os próximos envelopes. lambidos. selados. trancados, mas eu já aviso: dentro deles, o mesmo texto. não volta - tatue no braço. grude post-its. escreva com carvão pelas paredes. com as unhas compridas arranhando a terra: histórias de verdade não se rebobinam.