27.4.11

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você por um corredor sem portas. um labirinto mal construído. uma casa de espelhos que apenas deformam seu reflexo por todas as paredes. você em um parque infantil de beira de estrada. em uma montanha-russa sem freios. em um carrossel colorido que gira em alta velocidade. as pernas soltas em um teleférico de cabos enferrujados atravessando um jardim de cactos. você sem poder parar. rodando em um brinquedo quebrado. o vômito formado no estômago. a ânsia engatilhada na garganta fechando a passagem de um grito. você no escuro. tateando as paredes de cimento. ralando as mãos. tropeçando pela casa abandonada. esfolando os joelhos como em um castigo sobre o milho. você preso do outro lado do vidro observando o outono de cores secas. folhas caídas são um tipo de morte? você acorrentado nos fundos. sem afago, água, comida. mudo por uma coleira que corta os seus latidos. você com insônia, em cima de uma cama de pregos. os fantasmas fora dos armários. as gavetas trancadas. os frascos de remédios vazios. você enxotado por espantalhos. ajoelhado em uma guilhotina. fechado em um quarto com paredes de tecido. você procurando escadas. mas não há nada lá em cima.

20.4.11

vermelho amargo


«dói. dói muito. dói pelo corpo inteiro. principia nas unhas, passa pelos cabelos, contagia os ossos, penaliza a memória e se estende pela altura da pele. nada fica sem dor. também os olhos, que só armazenam as imagens do que já fora, doem. a dor vem de afastadas distâncias, sepultados tempos, inconvenientes lugares, inseguros futuros. não se chora pelo amanhã. só se salga a carne morta.»


[bartolomeu campos de queirós]

5.4.11

adélia




"a uns, deus os quer doentes, a outros quer escrevendo"