29.12.10

talvez seja bom que você saiba que


eu: coleciono rancores. desejo coisas ruins. cuspo na maioria dos pratos que já mataram a minha fome. gosto da inveja. da cobiça. de planos mirabolantes para destruir quem precisa ser derrubado. as peças inúteis que obstruem caminhos no tabuleiro onde sobrevivo. eu: acho o amargo melhor do que o doce. a vingança mais sábia do que o perdão. o olho por olho mais justo do que a inocência rídicula da compaixão. eu falo por trás esquentando orelhas. beijo faces indigestas com a doçura de judas. escondo raiva atrás de silêncios. ódio debaixo de sorrisos. as facas afiadas nas mãos para trás. há anos, envio buquês que escondem plantas carnívoras. cartas com artefatos explosivos. flores de mentira que espirram água no meio das caras. gosto da umidade das cavernas. do escuro dos quartos fechados. do silêncio das ruínas. do vazio das gavetas mofadas. eu: preciso do sossego do meu ninho. das outras cobras perigosas. eu: se for cutucado, aviso: não há antídoto pro meu tipo de veneno.

19.12.10

...


deste lado do mundo, a noite chega mais cedo. e é na cegueira do escuro que a memória mais gosta de sair à caça.

15.12.10

mar


na burrice desesperada da fome, morro abocanhando sempre os mesmos anzóis.

8.12.10

joão c. de m. n.


"assim como uma faca, que sem bolso ou bainha se transformasse em parte de vossa anatomia. qual uma faca íntima ou faca de uso interno, habitando num corpo como o próprio esqueleto de um homem que o tivesse. e sempre, doloroso, de um homem que se ferisse contra seus próprios ossos".

3.12.10

roma, outono de dois mil e dez


vi um homem roubando desejos do fundo de uma fonte.