23.3.08

meio


é o seu medo? por que, então, viver no meio se você pode escolher entre o céu e o inferno?

13.3.08

buraco


no meio do jardim, o buraco gigantesco. cavado, às pressas, porque me disseram que seria a única solução. esperar dentro dele que a terra caísse de volta. avalanche que me encobriria aos poucos. no meio do jardim, o buraco enorme. cavado porque me garantiram que não haveria mais jeito. não adiantava podar, regar, replantar. eu já era raiz morta. ramificações em decomposição. caule comido por cupins. folhas arrancadas por criança maldosa. não adiantava me colocar no canto da janela. debaixo do sol. forçar fotossíntese. minha vida já era fruto bicado por passarinho. maçã cheia de bichos caída sobre a grama. ainda vivo, mas apodrecido. no meio do jardim, o buraco giganteco. é dentro dele que eu espero. me disseram que seria o único jeito. voltar a ser semente e começar tudo outra vez.

4.3.08

mosaico


juntei meu rosto, transformado em cacos - pedaços caídos sobre o chão do quarto. juntei o meu rosto, com pá e vassoura, depois do espelho quebrado. da imagem dividida ao meio pelo trincar inesperado. recolhi os pedaços de mim, depois de não encontrar mais o reflexo. de não me enxergar no meio da moldura dourada - sobrevivente pregada na parede do quarto. juntei meu rosto, colei os pedaços, sem me reconhecer no estranho mosaico que acabou sendo criado.