21.1.08

separação


no fim, o que sobra é como cortiça de menina. de moça que muda de quarto. levam os sorrisos com as fotos, mas deixam sempre os alfinetes. fincados.

13.1.08

quebra-cabeça


só ficava mais tranqüila porque, assim, de longe, ninguém percebia. nessa distância, ela era figura inteira. paisagem. quebra-cabeça montado. idêntica ao desenho da caixa. só ficava mais tranqüila por saber que ninguém chegava tão perto a ponto de descobrir. agradecia ao vício dos olhos dos outros que, de longe, formava a figura inteira. mais tranqüila só por isso. por saber que, nessa distância, ninguém nunca veria que era incompleta. que faltava uma pequena peça bem no meio de tudo.

3.1.08

em dois mil e oito


"quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro. quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez. que não me entendam, pouco-se-me-dá. nada tenho a perder. jogo tudo na violência que sempre me povoou. o grito áspero e agudo e prolongado, o grito que eu, por falso respeito humano, não dei."

[clarice lispector]