25.2.07

morte


era um desses dias em que tudo corre bem. tinha limpado a casa e escrito dois ou três poemas que me agradaram. não pedia mais nada. então saí pelo corredor para retirar o lixo e atrás de mim, com um pé-de-vento, a porta se fechou. fiquei sem chaves e às escuras sentindo as vozes de meus vizinhos através de suas portas. é transitório, disse para mim mesmo; porém assim também podia ser a morte: um corredor escuro, uma porta fechada com a chave para dentro. o lixo nas mãos.

[do argentino fabián casas, no blog do joca]

12.2.07

desamores


há coisas que enchem demais as gavetas. que precisam sair delas de qualquer jeito. há histórias que incomodam demais aqui dentro. que precisam ser contadas. jogadas ao vento. "desamores" é um romance, de 182 páginas. finalista do prêmio sesc de literatura, o livro conta a história de um casal de trinta e poucos anos. recém-separado de ana, caio espera pela ex-mulher no restaurante de um hotel, no topo de um prédio. o cenário é a cidade de são paulo. o encontro, a última tentativa. e é durante essa espera, que o leitor conhece a história dos dois. que descobre o porquê de tudo ter chegado aquele ponto. com um suspense sutil e referências à literatura, à música e ao cinema, o livro conta também a vida de outros personagens que rodeiam os protagonistas. em comum, todos enfrentam as complexidades e as dificuldades dos relacionamentos amorosos contemporâneos. com uma narrativa não-linear e fragmentada, o romance intercala as histórias de cada um e aos poucos, tece a relação entre elas, para compor um retrato das várias fases do amor. da excitação ao marasmo. da paixão à decepção. do encantamento ao desamor.

[lançamento em abril. se a ansiedade não me matar antes]

8.2.07

vômito


"ler é o alimento de quem escreve. se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? ou escreva, então, para destruir o texto. mas alimente-se. fartamente. depois vomite. pra mim, e isso pode ser muito pessoal, escrever é enfiar um dedo na garganta. depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. pode sair até uma flor. mas o momento decisivo é o dedo na garganta."



[caio fernando abreu]