6.3.06

antídoto


você me provoca. me irrita. me cutuca com a ponta do pedaço de pau. com o galho quebrado. você me perturba. joga água e sai correndo. atira a pedra e me acerta de raspão. me espia no escuro e mostra a língua. me xinga. me atiça. invade o meu sossego. meu refúgio. pisa no meu ninho com os sapatos sujos. na minha toca. sem saber o meu tamanho, até onde vai meu bote, você me provoca. achando que não há perigo. sem conhecer a força da minha mordida. o tamanho dos caninos. você me provoca, sem esperar a picada. sem saber que ainda não inventaram antídoto pro meu tipo de veneno.

1.3.06

quarta-feira


não se assuste com o silêncio. não há mais ninguém brincando pelas ruas. pisando sobre confetes. se enrolando às serpentinas. não se assuste com o espelho. é você mesma. a máscara não esconde mais as rugas. traços fundos, espalhados pelo rosto. caminhos desenhados sobre a pele, todos os dias. é você. o perfume não camufla mais seu cheiro. a fantasia não oculta mais o seu mau gosto. o sossego, no lugar da música, revela as bobagens que sempre diz. agora, todos ouvem sua ignorância. não se espante. a bebida não disfarça mais o amargo da saliva. não vomite o que engole. este gosto é o seu. esta é você. por isso não se assuste com o espelho. com o silêncio. com seu gosto. seu cheiro. é você. sem trapos coloridos pendurados pelo corpo. sem truques. é o seu reflexo. tente olhar por alguns segundos. sem medo. esta é apenas você. nua.